O campo da Campina do Barreto foi inaugurado em 9 de agosto. Imagens: Prefeitura do Recife.
Com 1,5 milhão de habitantes, o Recife tem mais de 100 campos de futebol de várzea, sendo um dos municípios com mais “campos preservados” no país. A tal preservação se aplica basicamente à existência desses espaços, já que quase todos são de terra batida e com estrutura precária. Daí, a curiosidade sobre o campo reformado na Campina do Barreto. Num investimento de R$ 165 mil em 2023, foram instalados um gramado sintético e um sistema de iluminação de LED com seis torres, além da recuperação da arquibancada, alambrado, banco de reservas e brinquedos da praça.
Dentro do programa da Prefeitura do Recife para a colocação de campos artificiais no futebol de várzea, o Gramadão, esta obra no bairro da Zona Norte foi a primeira com dimensões oficiais. Ou seja, o campo tem 105m x 68m, o tamanho adotado pela Fifa. Esta política pública já havia começado no Ipsep (Campo da Vila Aliança) e na Imbiribeira (Campo do Jardim de Alá), em palcos menores. Assim, recuperação dos campos de várzea deve continuar, até porque existem 101 campos contabilizados pela Secretaria de Esportes. Esse novo visual despertou a atenção a outro cenário problemático em PE.
Da várzea para as Séries A3, A2, A1…
Há bastante tempo a escassez de gramados conservados é um problema grave no futebol profissional de Pernambuco, sobretudo no interior. Como não imaginar essa conversão para o piso artificial como solução em alguns lugares? É um pensamento quase automático, não exatamente novo, mas que cabe ressalva. Apesar da divulgação como “grama sintética da melhor qualidade”, o produto instalado no bairro de 9,4 mil moradores, bem na divisa com Olinda, não é o padrão utilizado no futebol profissional de alto nível no Brasil.
No estado, o primeiro campo sintético neste padrão também deve sair em 2023. Um dos cinco campos do CT do Sport deu lugar a um piso artificial, num investimento de R$ 2 milhões. Portanto, 12 vezes mais que toda a obra da prefeitura. Quando sai do âmbito do treinamento, o valor sobe ainda mais. Nos principais estádios particulares do país, os valores dos campos sintéticos oscilam entre R$ 4 milhões e R$ 7 milhões, casos da Arena da Baixada, do Athletico-PR, e do Allianz Parque, do Palmeiras, respectivamente. A diferença do preço, considerando a várzea, o CT e as arenas, está atrelada à qualidade e à durabilidade.
Cidades estratégicas para o modelo
Focando então no valor bancado pelo Sport, esta poderia ser uma meta interessante para os estádios do interior, selecionando aqueles de uso estratégico. Como exemplo, as cidades de Caruaru (Lacerdão e Antônio Inácio), Garanhuns (Gigante do Agreste), Serra Talhada (Nildo Pereira) e Salgueiro (Cornélio de Barros), todas com problemas hídricos, em diferentes escalas, e futebol local ativo. Na várzea, coube ao poder público se mexer para melhorar, algo visto também na cidade de Fortaleza, ou ao menos dar início a isso – por sinal, veremos quantos campos oficiais serão alcançados de fato nesta gestão da PCR.
Com carência nas Séries A1 e A2 do Campeonato Pernambucano, além da certeza de que também haverá problema na qualidade da grama natural na futura Série A3, a FPF já poderia ter se mexido neste aspecto, partindo do seu potencial econômico atual, cujo patrimônio líquido é de R$ 30,5 milhões. Já são dez anos consecutivos tendo mais receitas que despesas a cada balanço financeiro. Em 2022, por exemplo, o superávit da entidade foi de R$ 5,8 mi.
Ainda que a entidade não possa bancar, por N motivos, caberia a articulação por parcerias com este fim. Creio que seja mais útil do que vistorias técnicas anuais em locais sabidamente aquém da boa prática. Esse ciclo está batido. Até a várzea está deixando de ser assim…
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Abaixo, veja mais imagens do novo campo de futebol no bairro da Campina de Barreto.