O estádio dos Aflitos é o maior patrimônio físico do clube. Imagem: Mikson Azevedo/Instagram.
No início de 2023, mais precisamente em 13 de fevereiro, o Náutico entrou com um pedido de Recuperação Judicial, um ato extremo que possibilita a negociação coletiva das dívidas. Além de tentar sanear o clube, cujo passivo sujeito à recuperação é de R$ 132 milhões, a medida visava a preparação do timbu para a implantação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), ao tornar a associação mais atrativa para investidores. Não por acaso, pouco depois começou a articulação com um grupo, que agora deverá apresentar uma proposta de até R$ 980 milhões em investimentos na SAF alvirrubra. Pois é, quase R$ 1 bilhão.
O capital seria injetado em até dez anos, segundo a reportagem do site NE45. Trata-se de uma garantia contratual recorrente neste modelo. No Bahia, que oficializou a SAF mais robusta da região, o Grupo City deverá investir até R$ 1,5 bilhão em até 15 anos. No Náutico, de forma prática, o clube teria cerca de 1/3 do dinheiro direcionado para a infraestrutura, tanto na modernização dos Aflitos quanto em melhorias no CT Wilson Campos.
Patrimônio seguirá com a “associação”
Em relação ao estádio alvirrubro, a obra seria um “retrofit”, palavra também utilizada pelo Sport em sua ideia de requalificar a Ilha do Retiro. Sobre o patrimônio físico do timbu, é importante destacar que o imobilizado não será repassado à SAF. Será “alugado”. Ou seja, o clube como associação, com o CNPJ atual existindo paralelamente à SAF voltada para o futebol, seguirá como proprietário. Por sinal, de acordo com o último demonstrativo financeiro publicado pelo clube, este ativo está estimado em R$ 364 milhões!
As conversas entre o Náutico e o grupo de investidores, ainda mantido em sigilo, foram conduzidas numa operação entre a Pluri Consultoria e a Bridge Sports Capital, com apoio do escritório de advocacia Cahu Beltrão. Embora o Náutico viva neste mesmo momento um processo sucessório, com a eleição para o biênio 2024/2025, o futuro presidente talvez tenha “só” o papel de ratificar a criação da SAF. Claro, considerando que a proposta eventualmente seja formalizada, aceita pela direção e aprovada pelos sócios.
Investidor deve adquirir 90%
Nesta proposta, o futebol será inteiramente administrado por executivos contratados pela SAF. Até porque a tendência é que o clube de Rosa e Silva venda 90% das ações da futura SAF, ficando com 10%. Por sinal, a capacidade desses profissionais vale tanta atenção quanto o volume de recursos. Sobre o aporte apurado, trata-se de um dado animador. Entretanto, a comparação imediata precisa de alguns parâmetros. Voltando ao Bahia, o comprador quitou a dívida de R$ 300 milhões e ainda assegurou R$ 120 milhões anuais para o futebol.
No Vasco, a 777 Partners assumiu uma dívida de R$ 720 milhões, cinco vezes maior que a do Náutico, além do investimento acima da média no futebol. E isso depois de comprar só 70% da SAF do clube carioca. No timbu, também haverá o mínimo garantido, variando de acordo com a divisão no Brasileirão, algo também comum neste modelo – por isso o valor vai “até R$ 980 milhões”. Porém, este último dado específico ainda não saiu. A tendência é que a evolução da conversa traga mais detalhes, até porque os sócios precisarão ter conhecimento disso na assembleia. Contudo, a escala apurada já indica uma mudança considerável.
Mínimo garantido para o futebol
Nos últimos cinco anos, o maior orçamento do Náutico para uma temporada foi de R$ 21 milhões, em 2022, quando ainda estava na Série B. Numa conta simplória, a subtração do valor proposto pelo total da Recuperação Judicial e da previsão de recursos em estrutura ainda resultaria em 50,3%. Ou seja, aproximadamente R$ 488 milhões livres. Dividindo por dez, quase R$ 50 milhões no futebol a cada temporada, superando o dobro da realidade atual, cuja receita total ainda é repartida entre futebol, dívidas, estrutura, clube social etc.
E não confunda esse dado com a receita que o Náutico teria de 2024 a 2033, mas sim no “mínimo garantido”. Afinal, o possível crescimento do clube teria como consequência o fortalecimento de receitas já existentes, como direitos de transmissão na TV, patrocínios e sócios-torcedores, e o surgimento de outras frentes. A proposta deverá ser formalizada até 5 de outubro, seguindo com os trâmites burocráticos. Independentemente do andamento, um ponto bem importante já foi abordado: o “valor” do Náutico. Mesmo com o fiasco na Série C, o perfil do clube a longo prazo, o tempo analisado pelos investidores, segue valorizado.
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