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O maior patrimônio físico do Santa Cruz, o Arruda. O maior é outro. Foto: Rafael Melo/Santa Cruz.

Os primeiros clubes brasileiros de massa que adotaram o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) foram Cruzeiro, em 12/2021, e Botafogo, em 01/2022, abrindo o mercado. Nos dois casos, articulados pouco após a promulgação da Lei nº 14.193, em 6 de agosto de 2021, os investidores adquiriram 90% das ações, com o ex-jogador Ronaldo Fenômeno à frente da raposa e com o bilionário John Textor no alvinegro carioca.

Em ambos, um investimento escalonado de R$ 400 milhões. Montante que, mesmo a prazo, chamou a atenção de outras direções sobre o modelo societário. No Nordeste, num formato anterior de “S/A”, Bahia e Vitória viveram a experiência na década de 1990 – os rivais fracassaram, mas mesmo assim não descartam a nova versão. Entre os grandes da região, pois o Retrô foi o primeiro de fato adotar o modelo, o pioneiro a se mexer é o Santa Cruz, que, longe de ser coincidência, vive a pior fase considerando o “G7”.

Com um passivo de R$ 218 milhões e uma receita operacional que não chega a R$ 15 milhões por ano, o Santa Cruz já articulou a criação da SAF, que precisará da aprovação numa Assembleia Geral do clube. Também houve votação em Belo Horizonte e no Rio, com os dois pleitos ocorrendo já com o investidor interessado sendo conhecido. Ainda não é o caso no tricolor. Porém, dificilmente será diferente, pois a veracidade do negócio acabou sendo decisiva nas duas votações citadas. Segundo o clube pernambucano, que oficializou o interesse numa nota oficial em 7 de fevereiro de 2022, foram cinco meses “de profundos estudos e exame das alternativas por meio de consultorias especializadas”.

Ainda segundo o texto, “tal medida visa ampliar possibilidades de soluções financeiras e esportivas do time e vem na esteira de discussões já em curso com assessores para viabilizar possíveis investidores que demonstram interesse no projeto da SAF, buscando a retomada de um Santa Cruz competitivo e vencedor”. Por fim, a nota aponta que a SAF, caso aprovada, “representará o início da construção de um futuro próspero, levando o time de volta à elite do futebol brasileiro”. É óbvio que o clube visa a mudança pensando no melhor. Entretanto, não considero correta a postura de atrelar à melhora a este caminho. A SAF é um caminho, não “o” caminho. Seja qual for o modelo administrativo-financeiro, ele precisa ser responsável e profissional. E para isso não é preciso esperar a SAF. Nunca foi.

Com 108 anos, o Santa Cruz já vive há algumas décadas no limite da irresponsabilidade (ou incapacidade), com uma torcida imensa sendo sufocada neste processo – e não vem sendo diferente agora sob a gestão de Joaquim Bezerra. Falando em torcida, e estamos falando de 1,26 milhão de aficionados, segundo a última pesquisa do Datafolha, este é o verdadeiro maior bem do clube, inegociável. Não por acaso, de acordo com a consultoria Sports Value, o Santa Cruz “valeria” cerca de R$ 295 milhões, mesmo hoje.

O futuro “proprietário” do Santa, além de vislumbrar a revelação e negociação de talentos no futebol, terá que administrar a relação com este público-consumidor enorme, o sonho de qualquer empresário. Isso vale também para Sport e Náutico, que já se mostraram favoráveis à SAF e vêm produzindo estudos internos. O timbu divulgou a ideia de um estudo até antes, em 21 de janeiro, mas os corais deram um passo além, confirmando a proposta aos sócios.

Santa Cruz S/A quase saiu em 2008
Esta é a 2ª vez que a transformação do Santa numa S/A (ou SAF, nos moldes atuais) entra na pauta. Nas duas oportunidades, com o clube em baixa. Em outubro de 2008, logo após o rebaixamento para a Série D, o tricolor viu a aproximação de Fernando Bezerra Coelho, que assumiu a presidência executiva. Além da reforma do Arruda, que realmente saiu, o político/dirigente visava a criação de uma sociedade anônima para gerir o futebol do clube. O “Santa Cruz S/A” seria feito através de cotas de investimentos a partir de R$ 10 mil, largando com um apurado de R$ 25 milhões. Na época, FBC chegou a dizer que o clube já havia fechado três cotas de R$ 500 mil – assim, teria mais um ano para captar R$ 23,5 mi. O fundo de investimentos teria duração de dez anos, com prorrogação de mais cinco, mas não saiu do papel, com as cotas iniciais desfeitas. Curiosamente, o período máximo estaria próximo de acabar só agora. No presente, após outro descenso, uma conversa semelhante se torna pública, embora mais condizente com o cenário atual, com exemplos já firmados e num modelo mais vantajoso, a partir de um regime fiscal diferenciado e proteção sobre as dívidas – 20% da receita da SAF, de acordo com regra brasileira, precisa ir para as pendências da “associação”, o clube pré-SAF. De toda forma, o passado ensina.

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